‘Sinto que a minha vida não está valendo nada’: Mulher luta para conseguir remédio contra o câncer, mas Prefeitura de Presidente Olegário diz não ter dinheiro para comprar

Paula Tavares luta contra um câncer de mama agressivo desde 2018.
Paula Tavares luta contra um câncer de mama agressivo desde 2018.

A Prefeitura de Presidente Olegário informou na última terça-feira (24) à Paula Tavares, paciente de câncer de mama metastático, que não comprará as próximas doses de um medicamento, o Trastuzumabe deruxtecan. Em agosto, Paula conseguiu decisão judicial que determinou que o Município fornecesse a droga.

Em 2018, então com 26 anos, Paula foi diagnosticada com câncer de mama carcinoma invasor grau 3. Nesse grau, as células não têm características normais e crescem e se disseminam de forma mais agressiva.

Hoje, o câncer da paciente, que está com 32 anos, já está em metástase óssea e linfonodal. A medicação mais indicada no momento é a Trastuzumabe deruxtecan, droga aprovada em 2022 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que não tem similar ou opção genérica.

O tratamento com a medicação tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida dos pacientes. Paula precisa de 388.8 miligramas do medicamento a cada 21 dias.

Em agosto de 2023, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) decidiu que a Prefeitura de Presidente Olegário fornecesse o medicamento no prazo de 30 dias. Assim, a compra foi realizada no dia 5 de outubro e aplicada no dia 17 no Hospital do Câncer de Barretos.

Falta de tratamento e indignação

Devido ao processo e a demora na compra do medicamento, Paula ficou um mês sem tratamento. Ela estava utilizando o remédio Capecitabina, mas a doença se mostrou resistente a ele, podendo ter piora no estado de saúde com o uso.

Com a interrupção do tratamento, Paula perdeu o movimento das pernas, sentiu muitas dores e não conseguiu dormir. Para descansar, precisava ir ao hospital aplicar morfina e esperar que a dor passasse.

“Não é fácil, é muito desgastante. Meu psicológico ficou abalado, eu sabia que tudo era da doença e eu não poderia fazer nada. A dor não me permitia fazer nada. Não comia, não dormia, estava vegetando”, disse Paula.
Paula tem dois filhos, sendo um menino de 13 e uma menina, de 7, e contou com a ajuda do marido e da mãe durante o tratamento, pois ficou tão incapacitada que não conseguia realizar atividades básicas.

“Antes de receber a dose [que a Prefeitura comprou], minha mãe e meu marido estavam tendo até que me vestir, por causa da dor”, afirmou.

Depois da primeira, não tomar as doses seguintes dentro do prazo pode agravar o estado de saúde da paciente.

“Não continuar o tratamento significa a morte. O que eu sinto é que a minha vida não tá valendo nada”, desabafou.

Recurso para evitar a compra

Ainda em agosto, a Prefeitura de Presidente Olegário entrou com recurso na Justiça tentando reverter a decisão, argumentando que o custo do medicamento é muito alto e o tratamento anual da paciente extrapolaria o orçamento do município. No recurso, a Prefeitura afirmou que nesses casos a compra da droga deveria ser feita pelo Estado e a União.

Além disso, alegou que a determinação causaria desigualdade entre os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), pois reduziria os investimentos na rede pública e prejudicaria os demais pacientes.

“Quando fui atrás da segunda dose do tratamento junto à Prefeitura, me falaram que a responsabilidade era exclusivamente do Estado”, disse.

O que diz a advogada de Paula
Segundo a advogada de Paula, Fernanda Londe, a forma mais rápida de conseguir a medicação no prazo para a próxima aplicação, em 7 de novembro, é pela Prefeitura.

“O Município, Estado e União são solidários em questão de saúde. Se não tem dinheiro, a Prefeitura pode pedir, futuramente, para qualquer um deles que custeiem os valores gastos com as compras. O que não pode é escolher a quem deve dar o direito constitucional à saúde”, explica.

De acordo com a Prefeitura, cada dose do medicamento custa cerca de R$ 80 mil. Já conforme a advogada, cada aplicação custa R$ 52 mil.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde para solicitar um posicionamento sobre o caso e aguarda retorno. 

A reportagem também tentou contato por telefone com a Prefeitura de Presidente Olegário através do gabinete do prefeito Rhenys da Silva Cambraia (Cidadania). Na ocasião, foi solicitado que o pedisse o posicionamento pelo e-mail da assessoria jurídica e para a Procuradoria do Município. Até a publicação da matéria, a reportagem não obteve retorno.

No entanto, no sábado (28), o prefeito disse, por meio de rede social, que uma mobilização deve ser feita para que o Governo Federal e o de Minas Gerais custeiem o tratamento de Paula, uma vez que o Município deve oferecer apenas “atenção básica em saúde”. Ele também afirmou que o medicamento é de alto custo e deve ser adquirido por instituições superiores.

Colaborou: Júlia Barduco G1

POHoje - Todos os direitos reservados - Desenvolvido por KAMP